- Quem somos nós?
- De onde viemos?
“Ah! Meu filho, desde que o mundo tem sido mundo, a humanidade tem feito essas perguntas às estrelas do céu. Os homens sábios da antiguidade ficaram sem as respostas e, os homens de hoje, apesar de terem ido à lua, também não sabem, ainda, como responder a essas perguntas”.
“Vivemos num planeta chamado Terra, que faz parte de um grupo de planetas que giram em torno de uma grande estrela. Esta “grande” estrela, que não é das maiores, se chama Sol e esse grupo de planetas é o nosso Sistema Solar. Iguais a este, existem incontáveis outros sistemas solares, isto, só em nossa galáxia”.
Via Láctea 2LMC
“Iguais à nossa galáxia, existem incontáveis outras e assim por diante. A isto, para não complicar a cabeça, chamamos de universo infinito. Infinito é coisa que sabemos que existe, mas não conseguimos explicar ou imaginar como é. Ninguém sabe, realmente, como tudo começou”.
Orion
“Há o ensinamento religioso que diz que tudo começou no Paraíso. Há as várias teorias evolucionistas que dizem que, após o esfriamento da Terra, surgiram os seres unicelulares, os vermes, os répteis, os peixes, os mamíferos e os pássaros, sendo, cada um, resultado da transformação natural, inclusive o homem”.
Rafael Bernardes tinha consciência cósmica, sem contudo, tirar os pés do chão... do chão de Moema. Homem sentimental, bom e sereno como uma lagoa de tarde, diziam os amigos. Depois que sua Mazé se foi, andou triste... mas sempre sereno, sempre lagoa... lagoa de tarde.
Cansou-se da sombra. Esgrimiu com a tristeza, feriu-a de luz e saiu vencedor. Voltou a ser sol. Estava em plena campanha. Era novamente candidato a prefeito de nossa Terra. No dia oito de agosto muito andou pelas ruas de Moema sorrindo, abraçando e abraçado, como sempre. O sol se foi, veio uma crescente lua grande e se aboletou no céu, a ouvir noite adentro as conversas com a rapaziada. Rafael recolheu-se tarde. Sorriu para as estrelas que lhe retiniram luzes quebradas com barulhos de sino. Rafael Dormiu sorrindo.
Uma estrela o levou.
Os ventos da manhã de 9 de agosto de 2003 esparramaram em profusão pelas ruas e becos de Moema a última mensagem da vida-campanha do homem-doce de Moema:
“Já não moro mais em minha casa.
Minha casa agora é a casa do Pai.
Já não falo mais a língua dos homens,
mas sim a dos anjos...
Se você quiser me encontrar,
Pense em mim. Eu estarei sempre aí,
na sua memória, no seu coração...
Permaneçam com vocês três coisas:
A fé, a esperança e o amor”.
A vocês que dividiram conosco as alegrias
e as tristezas, o nosso agradecimento.
Filhos, Netos, Noras e Genros.
RAFAEL BERNARDES FERREIRA
* 23.08.1935.
+ 09.08.2003.
Rafael Bernardes foi casado com Maria José Mesquita Ferreira, sua querida Mazé. Filho de Pedro Ferreira da Silva, o Doca, e de Isabel Maria Bernardes, a Dona. Neto de Antônio Dionízio Ferreira, o Antonio Generoso, e de Francisca Vieira de Jesus. Bisneto de Pedro Ferreira da Silva Júnior[1] e de Generosa Dionízio Pereira, os doadores e dotadores do Patrimônio do Povoado de São Pedro do Doce. Trineto do Alferes Pedro Ferreira da Silva[2] e de Francisca Romana de Mendonça Filha, pioneiros do Doce que, nos primórdios foi chamado também de Povoado dos Gontijos.
Rafael, como mais de 90% da população de Moema, era também descendente do Capitão Manoel da Costa Gontijo[3], tetraneto, pois sua trisavó era filha do Capitão e de sua mulher Francisca Romana de Mendonça[4].
Rafael, prefeito que foi por três mandatos, assim como outros prefeitos, trouxe grandes melhorias para a cidade e para o povo de Moema. Porém, foi o único que se preocupou em devolver aos Moemenses a HISTÓRIA perdida de nossa Terra.
Lembro-me que, sentado no banco de sua casa no Retiro, terminou de ler o livrinho e com os olhos rasos d’água, disse-me:
- “Tarcísio... gostei demais da conta desse livro... agora nossas crianças vão gostar mais ainda de terem nascido em Moema... eu vou ler de novo esse trecho final... é bonito demais”, disse. Fui-me embora e ele ficou lendo.
- “Quem somos nós?
- De onde viemos?
Ah! Meu filho, desde que o mundo tem sido mundo, a humanidade tem feito essas perguntas às estrelas do céu. Os homens sábios da antiguidade ficaram sem as respostas e, os homens de hoje, apesar de terem ido à lua, também não sabem, ainda, como responder a essas perguntas. O que eu, com a minha ignorância, posso fazer é ensinar-lhe as coisas de Deus e contar-lhe a história de seus avós...”
Como se vê, naquilo que se refere à nossa origem cósmica, continuamos sem as respostas. Porém, quanto à nossa origem terrena, como povo brasileiro, mineiro e da região do Doce, não há mais mistério. Moemenses, sabemos quem somos e de onde viemos!
Cabe salientar ao leitor que, neste trabalho, preocupamo-nos mais com os fatos mais antigos e fomos apenas superficiais em nossa história mais recente, eis que, esta, todos já conhecem. Mesmo quanto aos pioneiros do Doce, citamos apenas os troncos mais antigos. Sobre isto, entregamos á Prefeitura Municipal três volumosas pastas contendo cópias de toda a documentação que conseguimos - carta de sesmaria, fragmentos e inventários - sendo que, muitos desses documentos nem citamos neste trabalho. Propositadamente, trouxemos a história até um ponto onde qualquer moemense, com um pouco de trabalho, poderá identificar seus ancestrais e, finalmente, chegar à sua ascendência nos Pioneiros do Doce. Para se ter uma ideia, cada pessoa tem quatro avós, oito bisavós, dezesseis trisavós, trinta e dois tetravós e assim por diante, de forma que dificilmente algum filho de Moema não será um descendente dos Pioneiros apontados.
Sugerimos que cada pai de família faça uma árvore genealógica de sua família e a dê de presente aos seus filhos e netos. Ensine a eles nossas tradições, o significado de nossas festas, os nossos costumes e os nossos sentimentos. Ensine-os a serem humanos, brasileiros, mineiros e Moemenses e a sentirem, por isto, muito orgulho e um grande amor”.
Valeu, Padrinho Rafael.
Saudade e carinho de seu afilhado
Tarcísio José Martins. Moema, 20 de agosto de 2003.
[1] Natural de Moema, falecido em 11.07.1914.
[2] Natural de Pitangui, falecido em 21.09.1875.
[3] Natural da Igreja Nova, hoje, Barbacena, MG - faleceu em março de 1829.
[4] A Matriarca do Doce era natural das Lavras do Funil (Lavras) e faleceu em 04 de março de 1847.